segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Entrevista com Antiprisma




Elisa Moreira e Victor José formam o duo Antiprisma que traz um folk com toques de doçura e psicodelia nos remetendo a uma paisagem sonora ora bucólica ora espacial. Com vozes e violões bem harmonizados seu primeiro EP autointitulado, lançado no ano passado pelo selo Mono.Tune Records, apresenta quatro faixas produzidas por Filipe C. que encantam pela sinestesia que evocam e pelos sentimentos que transmitem.

Do nome ao estilo, da sonoridade à vontade de gravar as primeiras músicas, como surgiu o projeto Antiprisma?

[Victor] Antes do Antiprisma, tocávamos juntos em uma outra banda, o Carrancazu. Depois de um tempo que a banda se separou, pensamos em começar algo do zero com algumas músicas que já tínhamos, mas que não foram usadas pelo Carrancazu.

[Elisa] A ideia inicial nem era pra ser uma dupla, porém acabamos descobrindo que havia uma afinidade mais que o suficiente pra já começarmos a tocar antes mesmo de montar uma banda. No fim das contas percebemos que nós dois daríamos conta do que pensávamos e tudo já fluía muito bem.

[Victor] Talvez por sermos uma dupla e pela natureza das músicas, acabamos mantendo o formato acústico e continuamos assim, acho que nos encontramos de alguma maneira bem diferente, que nunca tivemos a oportunidade de explorar quando raciocinávamos em termos de ter uma banda, entende? 

[Elisa] Aliás, isso facilitou muita coisa no início, por exemplo, desenvolvemos nossas primeiras músicas em casa, tranquilamente, sem gastar um tostão com estúdio ou tudo aquilo. Ganhamos muito tempo nesse sentindo nos descobrindo como uma dupla de seja lá o que for. Talvez até por isso muita gente que há tempos toca por aí tenha enveredado para o caminho do acústico. Vai saber... com a gente deu certo!

[Victor] Desde o início, nossa intenção era nos descobrir antes de sair de casa para fazer qualquer show. Então foi aí que surgiram as primeiras gravações, feitas em casa, produzidas por nós mesmos com o pouco recurso que tínhamos. A gente se divertia pensando em como fazer soar o Antiprisma da melhor maneira possível. E nem havia esse nome ainda. Antiprisma surgiu depois de muitas tentativas de achar um nome adequado, porque a gente não queria nada como Elisa & Victor ou Moreira & José, não soaria bem, não é? Queríamos apenas um nome legal... E Antiprisma veio da ideia de um amigo e logo de cara gostamos.

Como surgiu o convite para trabalhar com o Filipe C. e o selo Mono.Tune Records?

[Victor] A essa altura já tínhamos gravado muitas coisas em casa e disponibilizado na internet. Por acaso um dos colaboradores do site Pulsa Música Nova nos encontrou e convidou a gente para fazer parte de uma coletânea que estavam desenvolvendo, chamada Lição de Casa, somente com artistas que gravaram suas respectivas músicas de forma caseira. Alambradas, por exemplo, fazia parte do tracklist.

[Elisa] O Filipe acabou conhecendo a gente por meio dessa coletânea, e como estava em busca de novos projetos, nos propôs produzir um EP por meio do selo. A gente nem tocado um show sequer! Ficamos muito contentes. Gravar um EP produzido por ele foi sensacional, era mais do que a gente esperava naquele momento, nem tínhamos seis meses de Antiprisma. O trabalho do Filipe foi crucial pra tudo o que tem acontecido com a gente desde então. Foi uma grande experiência.

A cena folk brasileira se encontra em expansão, mas ainda é associada a cultura norte-americana em um primeiro momento. Como vocês lidam com essa associação e como se aproveitam da cena atual?

[Elisa] Com certeza algo está acontecendo em torno disso. Muitos artistas que estão surgindo empregam essa abordagem acústica, e isso vem de muitos lugares do país. Já ouvimos coisas boas de artistas do Nordeste, Centro Oeste e até mais perto de nós, como no interior de São Paulo e, claro, na capital.

[Victor] Apesar de no primeiro contato a maioria adotar o termo folk para descrever o nosso som, ainda não podemos dizer que fazemos parte de uma cena específica. Por outro lado, a gente reverencia a música acústica naturalmente e por causa disso acabamos por trocar afinidade com outros músicos que também gostam da abordagem, e às vezes até com influências totalmente diferentes das nossas, o que faz com que este cenário seja interessante para quem toca e para quem ouve. Vale lembrar que quando começamos a tocar como Antiprisma, nem imaginávamos que existiam tantas bandas e cantores que de certa forma resolveram explorar essa vertente.

[Elisa] Na verdade, é muito difícil falar de música folk sem esbarrar em algumas contradições. O Brasil já tem sua música folk há muito tempo, mas, por exemplo, nunca lembramos de Tião Carreiro ao pronunciar o termo, mas sim de Bob Dylan ou Joni Mitchell. A gente não vê nenhum problema  com a associação, mesmo porque grande parte das nossas referências vêm de bandas de folk rock dos Estados Unidos e da Inglaterra, além de outros gêneros. Por outro lado, também utilizamos elementos tradicionalmente brasileiros, como a viola caipira, que era algo que algumas composições pediam. Talvez, agora que esta  ‘ideia de folk‘ está tomando corpo por aqui, essa coisa toda possa adquirir uma identidade própria, e brasileira. Mas não forçamos o Antiprisma a afirmar nada, somos a favor de qualquer coisa desde que seja honesta.


Recentemente vocês anunciaram uma parceria com a Coagula Produções. Existem planos ainda para esse semestre?

[Elisa] Nós já fizemos uma sessão de fotos com o pessoal do Coagula, e temos muitas ideias ainda para possivelmente por em prática com eles, principalmente agora que estamos em fase de gravação do nosso primeiro álbum.

Qual a expectativa para o Festival Som de Bolso?


[Victor] Gostamos muito de eventos como este festival, já que é uma maneira de o público conhecer artistas independentes em uma única ocasião e principalmente de se divertir. É importante estimular as pessoas a saírem de casa e prestigiar o que está sendo feito, pois parece que isso se perdeu um pouco com o passar do tempo. A aproximação com o público é o que mantém o artista vivo. O que a gente quer é que as pessoas assistam ao máximo de shows e festivais como este, pois esta talvez seja ainda uma das únicas possibilidades de se saber o que de fato acontece na música independente atual, isso vale para o público e para os próprios artistas. 




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